quinta-feira, 25 de agosto de 2016

"Invenção" do avião, "descoberta" de países ainda não-existentes e chauvinismo rasteiro.

Nada como uma excessiva dose de ilusória crença em superioridade para compensar um extremamente forte sentimento e uma consciência de inferioridade.
"O" avião não foi uma invenção propriamente como os foram o telégrafo ou o laser. Os aviões foram uma criação gradual e coletiva. Havia literalmente milhares de pesquisadores, principalmente na França, fazendo pesquisas e participando de competições que tinham como objetivo futuros investimentos na tecnologia do "voo do mais pesado que o ar". Santos-Dumont foi apenas um deles.


O avião foi sendo inventado aos poucos. Não existiu ninguém na História que sozinho sonhou, concebeu, desenhou e executou o voo de um objeto mais pesado que o ar. Seria de fato inusitado e, bem, praticamente impossível, como acontece com qualquer outra grande e complexa invenção. Nem o cinema, a fotografia e o automóvel com motor movido à queima de combustível fóssil foram invenções de uma só mente. Foram invenções graduais. O que causa confusão é o sistema de patentes que dá a uma ou duas pessoas, ou a uma equipe, o título de inventores. Mas isso acontece por motivos legais e com finalidades financeiras. Não se pode ou se deve atribuir os mesmos valores das leis de patente ao fato histórico da criação e inovação tecnológica. Nem os irmãos Wright foram inventores "do avião". Foram, como Santos-Dumont e milhares de outros, meros contribuidores.
Por falar em historiografia caótica e militante, cabe lembrar que nenhum país do mundo foi jamais "descoberto". A historinha besta de que o "Brasil foi descoberto" e que já era habitado por povos "que eram os verdadeiros brasileiros" deve estar na base do péssimo e trágico sistema educacional que nós temos. Desde ainda criança fiquei impressionado com a tolice que ouvia sair das bocas dos professores e que lia nos livros. Logo percebi que não havia nenhum país na América do Sul, a não ser com a exceção do Império Inca e de uma cultura ao sul deste e que foi dominada pelos Incas. Não havia fronteiras, unidade política, administrativa e cultural e os "nativo"-americanos (invasores vindos da Ásia, que nossos patrulheiros PC não nos deixam chamar pelo que eles são realmente) não respeitavam as fronteiras atuais entre os países que então não existiam. O país foi inventado e construído aos poucos. Não vi jamais em livros didáticos argentinos, uruguaios, bolivianos, chilenos, colombianos, paraguaios, mexicanos, americanos e canadenses, qualquer menção à descoberta desses países. O Brasil é um caso sui generis. E não apenas nisso, mas em muita coisa errada e ruim.

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